Presidente do Einstein vê risco de faltar liderança única para enfrentar varíola dos macacos no país
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Ele vê risco de faltar, de novo, liderança centralizada para passar informação correta para a população. “Essa comunicação tem que começar antes de a doença chegar. Quando a gente escuta sobre os casos [no exterior], já precisa delinear protocolo”, diz.
O Brasil deveria aproveitar as lições da pandemia para lidar com a chegada da varíola dos macacos e também com outras doenças que venham a surgir no futuro, segundo Sidney Klajner, presidente do Einstein.
Ele vê risco de faltar, de novo, liderança centralizada para passar informação correta para a população. “Essa comunicação tem que começar antes de a doença chegar. Quando a gente escuta sobre os casos [no exterior], já precisa delinear protocolo”, diz.
No Einstein, em São Paulo, nas unidades Morumbi, unidades avançadas e clínicas Einstein, a taxa de positividade é de 35%, com 30 exames positivos em 85 realizados. Na unidade de Goiânia, é de 63% com 19 positivos.
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PERGUNTA – Como avalia a situação com a varíola dos macacos?
SIDNEY KLAJNER – Aquelas organizações que têm condições de prover o teste adequado, o diagnóstico mais rápido, já começaram a se preparar para isso. Aprendemos muito com a Covid. Os aprendizados do diagnóstico mais rápido e da informação para a população são fundamentais.
A correta informação baseada em evidência científica é a melhor estratégia neste momento. Até para saber como contamina, como se proteger, saber da confusão que as lesões cutâneas podem ter com outras doenças dermatológicas e não ter estigmatização.
A gente vê vários países em que todas essas normas são ditadas por quem de fato lidera as ações de saúde. E, de novo, o que estamos vendo é tomada de decisão e atitudes de forma descentralizada. Não estou falando quem é bom, quem não é. Por exemplo, existe uma mobilização no estado de São Paulo que é diferente de outro estado, que é diferente do Ministério da Saúde.
E, de novo, a gente pode cair no erro da falta de uma liderança única para prover a informação correta.
Imagine o que a gente passou com a Covid, por falta de uma informação correta. Aí, as pessoas acreditam em quem os olhos se voltam, ideologias. Hoje, eu não vejo também um linguajar único daquilo que a ciência recomenda.
A gente reviu tudo isso no último mês para o lançamento do documentário “Retratos de uma Pandemia: Na Linha de Frente do Combate à Covid-19”, [com gravações que acompanharam hospitais públicos e privados administrados pelo Einstein], que estreou na Globoplay.
Por mais que a gente esteja tranquilo hoje com Covid, porque a vacina trouxe a tranquilidade de não matar tanta gente, quando você vê tudo o que aconteceu, tem que tirar disso uma boa lição para lidar, não só com a varíola, mas com futuras pandemias que podem acontecer.
P – Como está a questão do prazo para o resultado do exame? Isso é outro problema?
SK – O resultado do Einstein tem demorado três dias. Como acontecia: precisava colher, ter o resultado e enviar os positivos para o Instituto Adolfo Lutz para ter a chancela. A rotina dele também deve estar sobrecarregada para devolver, para fazer contraprova.
Graças à qualidade demonstrada na realização desse exame, nós deixamos de ter a necessidade da contraprova pelo Adolfo Lutz. Assim, o exame passa a demorar três dias para o resultado.
P – Isso deve acontecer nas instituições de ponta. Mas qual deve ser o grau de preocupação nos rincões?
SK – Até para dar o tratamento correto, precisa ter o diagnóstico. A varíola dos macacos tem um modo de apresentação que pode levantar suspeita rápido, mas tem vários diagnósticos diferenciais para um aspecto cutâneo. Então, os rincões também precisam de logística de encaminhamento para aqueles casos que são suspeitos.
Tem um número de casos que permitiria, na suspeita, ter o referenciamento para onde o exame vai para ter o resultado. Isso permite não só o tratamento do paciente, mas o controle epidemiológico correto para que não se estimule a transmissão. É algo que foi impossível na Covid, porque o grau de contaminação era extremamente alto. Aqui já não é tão alto.
Isso também cai no parágrafo de que temos que aprender com os últimos dois anos.
P – O governo talvez esteja demorando para fazer a informação adequada da população?
SK – Eu vou te falar como eu vejo como profissional de saúde: tudo aquilo que já contaminou quase mil pessoas já está tardio. Na verdade, essa comunicação tem que começar antes de a doença chegar.
Quando a gente escuta sobre os casos acontecendo [ no exterior], a gente já precisa delinear um tipo de protocolo.
E como já existe esse conhecimento com outras varíolas, é muito diferente do SARS CoV-2, em que não tínhamos conhecimento nenhum. Mas para essa já existe, e essa cartilha deveria estar pronta e sendo colocada disponível para a população, bancado por quem deveria liderar esse tipo de prevenção. Eu vejo que isso já deveria estar prevenindo.
P – Como estão as estatísticas e a informação no Einstein?
SK – Não é um número volumoso, mas quando começaram as notícias da varíola dos macacos, o serviço de controle de infecção hospitalar que já existe aqui monta um grupo de prevenção e deixa no site.
Isso está aberto ao público, é a informação correta, mas a gente tem um grau de penetração restrito a quem a acessa o site, aos nossos colaboradores. E a capacitação para esses colaboradores também já começou antes de a doença chegar, da mesma forma como foi com a Covid.
RAIO-X
Cirurgião do aparelho digestivo e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, tem graduação, residência e mestrado na Faculdade de Medicina da USP. É também coordenador da pós em coloproctologia e professor do MBA em gestão de saúde no Instituto de Ensino e Pesquisa do Einstein.
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