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Quando cem policiais sitiaram uma escola ocupada em São Paulo


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“Está tendo assalto a banco, é?”, indagou um homem que aguardava na calçada para atravessar a rua na esquina da rua Teodoro Sampaio com a Pedroso de Moraes, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. A pergunta não era descabida: nesta quarta-feira, o quarteirão da escola estadual Fernão Dias estava completamente cercado por mais de 100 policiais militares – e dezenas de viaturas, segundo dados da corporação. Uma das pistas da Pedroso, bem como as duas vias laterais da escola foram totalmente isoladas para o tráfego de veículos e pedestres.

Mas não se tratava de uma ação do crime organizado: desde terça-feira um grupo de alunos da Fernão Dias decidiu ocupar a escola para protestar contra a reforma educacional, que prevê o fechamento de 94 escolas além de remanejamento de milhares de alunos das unidades públicas, e está sendo implementada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Uma outra escola em Diadema também foi ocupada na terça. Os estudantes se recusaram a dizer o número de pessoas que participam da ação.

Desde outubro, milhares de estudantes têm ido às ruas protestar contra a nova política para o ensino, que o Estado chama de “redesenho” da rede estadual, que abriga 3,75 milhões de alunos. A reforma será posta em prática a partir de 2016 e, por causa dela, além do encerramento de atividades letivas em 94 escolas, outras 754 terão ciclos encerrados, quer do ensino fundamental ou médio. A Fernão, um amplo prédio em área nobre da cidade, continuará aberta, mas os alunos do ensino fundamental irão para a escola Godofredo Furtado, no mesmo bairro. E as turmas do ensino médio da Godofredo vão para a Fernão. Desde o início do protesto na tarde de ontem, alguns jovens já deixaram o prédio — parte deles a pedido dos pais —, e um pequeno grupo conseguiu entrar. Nesta quarta-feira houve confusão quando a PM usou spray de pimenta para impedir que outros alunos entrassem na escola.

“Essa política de construir mais cadeias e fechar escola prejudica principalmente os mais pobres, não querem que tenhamos estudo”, afirmou a jovem M. N, aluna do último ano do ensino médio da Fernão. Ela é uma das dezenas de estudantes que passaram a madrugada dentro do prédio, e diz que a ocupação era uma questão de tempo. “Fui a quase todos os atos contra o redesenho. Dissemos que isso iria acontecer e não fomos levados a sério, não fomos ouvidos.”

A jovem diz que as decisões na ocupação são tomadas em assembleia, e que uma vaquinha entre os alunos foi feita para comprar comida e itens de higiene pessoal. Para dormir os estudantes se revezam em 15 colchonetes doados pelo secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy, que esteve no local na noite de terça-feira. M diz contar com o apoio da mãe, que visitou a ocupação ontem. “Não estamos quebrando nada aqui dentro, as salas dos professores e da diretoria estão trancadas”, afirma. Apesar do cansaço de uma noite mal dormida e sob sítio da polícia, a estudante tinha um sorriso no rosto. “Todo mundo que está aqui dentro está feliz. Nossa luta é justa, nossa luta é bonita.”

Do lado de fora, sob o olhar atento de uma centena de PMs, um grupo de alunos gritava slogans contra o fechamento de escolas e em apoio à ocupação: “Pode chover, pode nevar, a minha escola não vai fechar!” Uma delegação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto também esteve presente para apoiar o ato, bem como integrantes do Movimento Passe Livre.

Para a capitã Cibele, da assessoria de imprensa da PM, o contingente mobilizado é adequado para “garantir a integridade física dos alunos que estão lá dentro”. De acordo com ela, a orientação do contingente é impedir que outras pessoas entrem no prédio, e registrar o nome de quem sai para o caso de ter havido algum prejuízo material à escola.

Os argumentos dos estudantes e do Governo

Ariane Mikaeli, de 16 anos, é uma das alunas do Fernão que irá migrar para o outro colégio. “A ocupação não é só pela Fernão, é contra o plano geral do Governo”, afirma a jovem, que deixou o prédio hoje pela manhã. Ela diz que a tendência é que as salas de aula fiquem lotadas. A supervisora de ensino para a região centro-oeste, Maria Cecília Mello Santo, discorda, e afirma que tanto a Fernão quanto a Godofredo tem capacidade para absorver a mudança de turmas. “A Godofredo, principalmente, está funcionando com capacidade ociosa”, afirma. Segundo ela, será respeitado o limite de alunos por classe, que é de 35 no ensino fundamental, e 40 no médio. O argumento da gestão Alckmin é que escolas que abrigam um único ciclo, fundamental ou médio, tem melhor rendimento.  “A ideia pedagógica é correta. Se você aglutinar as pessoas por ciclos, os professores não precisam se deslocar, você não tem alunos com idades muito díspares juntos. Como ideia, é procedente. Mas isso não pode ser feito apressadamente sem planejamento”, ponderou, no mês passado, Neide Noffs, diretora da Faculdade de Educação da PUC São Paulo. A supervisora Maria Cecília Mello Santo diz que e a diretora da escola disseram ter tentado sem sucesso negociar com os estudantes. “Eles dizem que lá não tem líder, aí fica difícil conversar”.

Gil Alessi

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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