Relação de Bolsonaro com ditadores varia de acordo com agenda ideológica
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Bolsonaro já elogiou vários ditadores históricos, como o chileno Augusto Pinochet e o paraguaio Alfredo Stroessner, assim como outros na África, Oriente Médio e Europa
As menções elogiosas do presidente Jair Bolsonaro (PL) por líderes do regime militar no Brasil são conhecidas –das repetidas menções ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra a homenagens públicas a presidentes do período.
Quando o assunto é política externa, no entanto, sua relação com ditaduras e governos autoritários não segue um padrão e é determinada principalmente pelo lado do espectro ideológico desses regimes.
Bolsonaro provoca com frequência o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por sua relação com ditaduras latino-americanas à esquerda, como Venezuela, Cuba e Nicarágua.
Ao mesmo tempo, ele já elogiou vários ditadores históricos na região, como o chileno Augusto Pinochet e o paraguaio Alfredo Stroessner. E mantém não só laços próximos com representantes da ultradireita que são seus contemporâneos, eleitos na esteira da ascensão do trumpismo, como também com líderes do Oriente Médio cujos regimes são marcados por infrações de direitos humanos.
Veja abaixo um breve histórico das relações do atual presidente com líderes e regimes autoritários:
ESTADOS UNIDOS
Bolsonaro inspira boa parte de sua atuação política na do ex-presidente Donald Trump -incluindo a retórica golpista que, intensificada às vésperas das eleições em ambos os casos, resultaram em uma invasão do Capitólio no contexto americano.
O republicano se tornou modelo para a ultradireita que ascendeu ao poder na última década, fazendo uso de estratégias digitais maciças e defendendo pautas conservadoras. Trump apoia a reeleição de Bolsonaro, devolvendo ao brasileiro a torcida expressa no embate contra Joe Biden.
RÚSSIA
Oito dias antes do início da Guerra da Ucrânia, Bolsonaro se reuniu com Vladimir Putin. Depois do encontro, o brasileiro se disse “solidário à Rússia”, provocando um impasse diplomático em meio à tensão que já havia entre Moscou e Kiev.
Há mais de 20 anos no poder, Putin acumula controvérsias não apenas pela invasão do país vizinho, mas pela repressão a dissidentes e opositores e violações de direitos humanos.
HUNGRIA
O primeiro-ministro Viktor Orbán é um dos maiores aliados internacionais de Bolsonaro. Ele já foi chamado de “irmão” pelo brasileiro e apoia a sua reeleição -o húngaro chegou a oferecer ajuda à campanha em uma reunião ministerial.
Nos seus dez anos no poder, Orbán conseguiu aprovar leis que usurparam a autonomia universitária, retrocederam nos direitos da população LGBTQIA+ e concentraram poder em suas mãos. Ele também é acusado de violações de direitos humanos e criticado por medidas anti-imigração e contra a liberdade de imprensa.
POLÔNIA
O presidente polonês, Andrzej Duda, foi um dos poucos líderes com quem Bolsonaro se encontrou durante a última Assembleia-Geral da ONU. Desde sua vitória nas urnas, o partido de Duda implementou reformas para aumentar o controle sobre o Judiciário, que lhe valeram uma investigação por parte da União Europeia, ainda em curso, e o rebaixamento do país em rankings de liberdades democráticas.
AMÉRICA LATINA
Após a vitória de líderes progressistas em eleições presidenciais em países como Colômbia, Bolívia e Chile, o presidente ficou sem grandes aliados locais. Alguns dos líderes à direita que restaram compartilham com ele tendências autocráticas, no entanto.
É o caso de Alejandro Giammattei, eleito na Guatemala com uma plataforma de defesa de valores cristãos e combate ao crime semelhante à do brasileiro e com quem seu governo vem estreitando laços. E também de Nayib Bukele, presidente de El Salvador que se apelidou de o “ditador mais cool” nas redes -ele aparelhou a Suprema Corte, tem atuado para silenciar a imprensa independente e decretou um estado de exceção seguido de uma série de denúncias de abusos e maus-tratos.
ORIENTE MÉDIO
Bolsonaro acumulou visitas a líderes controversos em um giro pela região no final do ano passado. Nos Emirados Árabes Unidos, ele se reuniu com Mohammed bin Rashid Al Maktoum, emir de Dubai acusado de ter sequestrado e impedido duas de suas filhas de deixar o país; no Qatar, sede da próxima Copa do Mundo e palco de diversas violações de direitos humanos, participou de uma motociata.
Em uma viagem anterior à região, o brasileiro descreveu príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, como um “quase irmão”. MBS, como é conhecido, é acusado de mandar esquartejar um jornalista dissidente, sequestrar a própria mãe, apoiar jihadistas, determinar restrições a mulheres e homossexuais e perseguir religiões, proibindo a prática do cristianismo no país de maioria muçulmana.
ÁFRICA
O presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, é admirador declarado de Bolsonaro, e foi convidado pessoalmente por ele para visitar o Brasil no ano passado. O guineense é acusado de aparelhar o Estado, indicando militares em vez de servidores civis para postos-chave, e defende uma reforma da Constituição, que, para opositores, teria como objetivo concentrar mais poder em suas mãos.
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