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Rússia abandona ilha da Cobra, símbolo da resistência da Ucrânia


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Estratégica porque, minúscula (quase três vezes menor que o Vaticano) e a 35 km a leste da fronteira da Ucrânia e da Romênia, a foz do rio Danúbio, é um ponto de controle de tráfego marítimo importante


 Em mais um episódio da Guerra da Ucrânia engolfado pelo conflito de versões, a Rússia abandonou na madrugada desta quinta (30) a estratégica e simbólica ilha da Cobra, no noroeste do mar Negro.

Estratégica porque, minúscula (quase três vezes menor que o Vaticano) e a 35 km a leste da fronteira da Ucrânia e da Romênia, a foz do rio Danúbio, é um ponto de controle de tráfego marítimo importante.

Simbólica porque, ao ser tomada pelos russos no primeiro dia da guerra, a guarnição de 13 ucranianos lá baseada famosamente disse por rádio a um dos navios inimigos para ir “se f…” antes de ser capturada.

A frase virou um ícone da resistência, romantizada por Kiev: os soldados, que o governo achou por dias que estavam mortos, viraram heróis. Um concurso foi feito para criar um selo em homenagem ao caso. A embarcação xingada, o cruzador Moskva, acabou afundado na maior perda naval russa do conflito.

De acordo com o Ministério de Defesa da Rússia, a retirada foi “um gesto de boa vontade”. “A fim de organizar um corredor humanitário de grãos como parte da implementação de acordos conjuntos com participação da ONU, a Rússia decidiu deixar suas posições”, afirmou a pasta.

As forças russas deixaram a ilha em dois barcos pequenos. Moscou diz que agora Kiev precisa retirar as minas da região para organizar a exportação de mais de 20 milhões de toneladas de grãos represadas em Odessa, seu maior porto no mar Negro.

A história pode até ser verdadeira, mas soa estranha. Nas últimas semanas, os russos haviam sofrido ao menos dois ataques na ilha com mísseis e drones. Um rebocador russo foi afundado. As ações acabaram repelidas, mas mostravam o contínuo foco no local.

A Marinha da Ucrânia foi aniquilada, mas a proximidade da costa permitiu a Kiev ataques com mísseis e ao alcance de veículos não tripulados. Nesta quinta, a imprensa local confirmou a retirada e disse haver relatos de que os invasores queimaram suas instalações ali, embora nada falasse de acordo sobre grãos.

Depois, as Forças Armadas ucranianas disseram que a recaptura da ilha da Cobra era resultado de um renovado ataque com mísseis, que teria expulso os russos. Novamente, apesar de a base na ilha estar bem protegida por sistemas antiaéreos, a versão pode ser real.

Por ora, o fato é que a Rússia perdeu um ponto de apoio importante caso tente controlar a costa do mar Negro. Este era um dos objetivos presumidos de Moscou, segundo inadvertidamente revelou um general em abril, após a conquista do corredor terrestre entre o Donbass, no leste, e a Crimeia, anexada em 2014.

O corredor está estabelecido, mas o foco da guerra russa hoje é no Donbass, com avanços para a tomada dos 5% da província de Lugansk em mãos de Kiev e preparativos para algo ainda mais complexo, devido a fatores de terreno, que é capturar os 40% remanescentes da vizinha Donetsk ucraniana.

O controle do mar Negro, que de resto é total pelos russos na sua porção norte, não é crucial para Moscou no momento. Mas, caso quisesse conquistar Odessa e o resto da costa, a ilha era um ponto importante.

Voltando ao campo do simbolismo, a saída russa, seja por expulsão ou voluntária, é uma rara boa notícia para Kiev nas últimas semanas. Quanto ao suposto acordo, é bom lembrar que a retirada de minas de Odessa também pode ser vista como um meio de facilitar um desembarque anfíbio futuro.

A questão alimentar é uma das frentes da guerra. O Ocidente acusa o governo de Vladimir Putin de usar o bloqueio à Ucrânia como arma, pressionando contra as sanções que sofre ao ameaçar a fome em locais como a África e ao provocar inflação no resto do mundo. O Kremlin diz que o problema é de Kiev.

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Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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