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Rússia deixa cidade-chave para Ucrânia, e EUA pedem negociação


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Forças de Kiev entraram lentamente no município, temendo emboscadas, mas os relatos em redes sociais mostram que os momentos finais da saída russa foram dramáticos, com soldados enfileirados para atravessar o rio Dnieper em direção às novas posições de Moscou na região que anexou em setembro.


A Rússia afirmou ter completado nesta sexta-feira (11) a retirada militar de Kherson, a principal cidade que havia capturado desde o início de sua invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Forças de Kiev entraram lentamente no município, temendo emboscadas, mas os relatos em redes sociais mostram que os momentos finais da saída russa foram dramáticos, com soldados enfileirados para atravessar o rio Dnieper em direção às novas posições de Moscou na região que anexou em setembro.

A retirada disparou uma ofensiva diplomática pelo fim do conflito por parte dos aliados do presidente Volodimir Zelenski, a começar pelos EUA, que já deram quase US$ 20 bilhões em armas para Kiev.

O chefe do Estado-Maior Conjunto americano, general Mark Milley, afirmou ao jornal britânico The Times que a saída dos russos de Kherson abria “uma janela de oportunidade” para os líderes que irão se reunir na semana que vem na cúpula do G20 em Bali, na Indonésia, para discutir a paz.

Nem Zelenski nem Putin estarão lá, mas seus maiores aliados, sim: o americano Joe Biden e o chinês Xi Jinping farão uma reunião bilateral no encontro. O Kremlin negou que o russo fará uma participação por vídeo, o que deve ocorrer com o ucraniano, e Moscou será representada pelo chanceler Serguei Lavrov.

Houve outros sinais notáveis. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, afirmou que EUA e Rússia irão discutir uma troca de prisioneiros e que delegações de ambos os países vão se reunir no Cairo para elaborar uma nova versão do Novo Start, principal acordo de controle de armas nucleares estratégicas.

Em solo, a retirada russa é a maior derrota simbólica de Putin desde que desistiu de cercar e capturar Kiev por força insuficiente e reação ucraniana, no começo do conflito. O principal apresentador da TV estatal russa, Vladimir Soloviev, desancou a cúpula militar do país em seu programa na noite de quarta-feira (10): “Essa escória mentiu de cima para baixo. Não sei por que não foram fuzilados”, afirmou.

Com efeito, ele não criticou a retirada em si ou o novo comandante da invasão, Serguei Surovikin. Desta vez, Putin conseguiu amarrar os elementos mais radicais de sua elite em torno da decisão, anunciada a conta-gotas nas últimas semanas, com a retirada da administração russa e, depois, da saída de civis.

Assim, o processo foi elogiado pelo líder tchetcheno Ramzan Kadirov e pelo chefe do grupo mercenário Wagner, Ievguêni Prigojin, principais opositores do ministro da Defesa, Serguei Choigu.
Na prática, a Rússia parece estar estabelecendo uma nova fronteira para Kherson, baseada no curso do rio Dnieper. Apesar de perder a capital homônima e a maior cidade da área, com quase 300 mil moradores antes da guerra, Moscou segue dominando quase todo o território.

Taticamente, o que resta saber é o que ocorrerá com a usina hidrelétrica de Nova Khakova, vital à região. Kiev e Moscou acusaram-se mutuamente de planejar explodi-la, inundando a área, o que provavelmente acabaria com o canal de fornecimento de água para a Crimeia, anexada pelos russos em 2014.

O canal havia sido interrompido pelos ucranianos, mas foi reaberto logo depois de a Rússia tomar Kherson, em março. Peskov afirmou que, apesar da retirada, Moscou segue considerando o território a oeste do rio como seu, o que leva à especulação se o Kremlin faria valer seu blefe nuclear e empregar uma ogiva tática de baixa potência contra os ucranianos -a doutrina atômica russa prevê o emprego desse tipo de arma em caso de ameaças existenciais à soberania do Estado.

Nas outras regiões anexadas, o controle varia. É praticamente total em Lugansk, amplo em Zaporíjia e cerca de 60% em Donetsk. Em caso de uma negociação de paz, Kiev dificilmente aceitará perder algum território, e Moscou, entregar algo que tenha em mãos.

Em Kherson, havia cerca de 40 mil soldados russos. Com a ofensiva montada pela Ucrânia ao longo de três meses, com ataques contra pontes que serviam de via de suprimento para suas tropas na cidade, a posição russa passou a ser indefensável. Isso levou à retirada, para evitar a perda das forças.

Uma bandeira ucraniana foi colocada num prédio na praça central da cidade no meio da madrugada, mas as forças de Kiev só começaram a entrar na cidade pela manhã. Imagens sem comprovação independente mostraram baterias ucranianas atirando contra os pontos de cruzamento de soldados russos no rio.

“Hoje é um dia histórico. Estamos retornando a Kherson”, afirmou Zelenski em seu canal no Telegram. Um vídeo, esse crível, mostrou o desespero de um soldado russo ao chegar ao outro lado do Dnieper na madrugada, dizendo que seus comandantes mandaram as tropas fugirem na calada da noite.

Segundo os ucranianos, os russos explodiram as pontes remanescentes sobre o rio e fortificaram toda sua margem leste. Imagens de satélite mostram estruturas piramidais de concreto conhecidas como dentes de dragão para evitar a passagem de blindados, trincheiras e muros, além de posições de artilharia.
Se a guerra chegasse a um cessar-fogo hoje, a área já tem o aspecto das zonas desmilitarizadas mundo afora, como na fronteira das duas Coreias.

|IDNews® | Folhapress | Via NBR | Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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