São Paulo já tem todos os bairros com epidemia de dengue, aponta boletim da prefeitura
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Até a última semana, só Moema e Jardim Paulista, nas zonas sudeste e oeste de São Paulo, respectivamente, não tinham uma incidência acima de 300 casos por 100 mil habitantes, considerado como uma métrica pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para classificar uma epidemia.
Todos os distritos da cidade de São Paulo já estão com epidemia de dengue, segundo o boletim epidemiológico da prefeitura divulgado nesta segunda-feira (29).
Até a última semana, só Moema e Jardim Paulista, nas zonas sudeste e oeste de São Paulo, respectivamente, não tinham uma incidência acima de 300 casos por 100 mil habitantes, considerado como uma métrica pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para classificar uma epidemia.
O novo boletim mostra que, apesar de epidêmicos, os distritos de Moema (304,1), Jardim Paulista (329,0), Saúde (366,2), Vila Mariana (373,8) e República (395,5) possuem as incidências mais baixas da cidade.
Na ponta dos mais altos, estão Jaguara (10.598,1), São Miguel (7.039,2), São Domingos (4.569,6), Itaquera (4.561,4) e Guaianases (4.156,7).
A explicação para a altíssima incidência na Vila Jaguara, na visão do responsável pela Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde), órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde, Luiz Artur Caldeira, é que o local, que possui incidência de dengue bem acima se comparado aos demais distritos da cidade, concentrou muitos casos nos meses de janeiro e fevereiro.
“Em janeiro e fevereiro, praticamente os casos da região oeste eram quase todos no Jaguara. Quando a gente observa, da semana passada até agora, em número de casos absolutos, a cidade aumentou cerca de 17% o número de casos absolutos. O Jaguara não atingiu 8% de aumento, ou seja, nessas últimas semanas, proporcionalmente ao restante da cidade, o distrito tem apresentado um aumento de menos de 50%. O que pesa negativamente é que Jaguara já tem um acumulado de incidência”, explica o coordenador da Covisa.
O local também oferece condições favoráveis à proliferação do mosquito. Caldeira relatou à reportagem que, durante as visitas à região, notou um grande número de casas geminadas, sem quintal e com vasos de plantas nas calçadas e dentro das residências, em corredores apertados. Muitas das casas também tinham pequenos vasos pendurados.
“A maioria é uma população idosa, que tem gosto maior por planta. Você tem muitos vasos de planta, tanto no chão, fazendo um jardim artificial, em cima de vasos, como os pendurados. Observamos que muitos deles, por serem idosos, têm dificuldade para mover os vasos, para tirar o pratinho ou mesmo ver o quanto de água estão deixando nos potinhos mais altos.”
A incidência no município de São Paulo é 1.832,7, com 220.029 casos registrados só em 2024.
Segundo Caldeira, ainda não é possível perceber uma diminuição da transmissão da doença, mas um platô.
“Desde a semana dos dias 13 e 14 de março até as duas primeiras semanas de abril observamos uma média de 30 a 35 mil novos casos por semana. Então, nós estamos há cerca de três semanas com um platô de mesmo número de casos novos”, explica Caldeira.
“Por que dá para a gente ver que é um platô? Quando você observa a semana epidemiológica, antes e depois, você vê que o número de casos novos em relação à semana anterior dobrava sempre. É uma característica quando a gente analisa a história natural da doença. Quando você está numa curva de ascensão de casos, o que é esperado epidemiologicamente é realmente isso, que os casos dobrem semana a semana em relação à anterior”, diz o coordenador da Covisa.
A expectativa é que os números comecem a cair na primeira semana de maio, mesmo com o calor fora de época.
“O fato de nós entrarmos no período de estiagem, existe um impacto, mas não como se fosse numa frente fria. Isso seria o melhor dos mundos, porque aí o mosquito [Aedes aegypti] não conseguiria completar seu ciclo. De qualquer forma, se você passa um tempo maior de estiagem, as poças secam e aí você, de certa forma, diminui um pouco a infestação. Se continuar o calor em maio, [o número de casos] deve cair com uma velocidade mais lenta do que se chegasse a frente fria”, comenta.
Em relação às mortes, foram confirmadas 105 -em uma semana, houve uma alta de 56,7%. Na capital, 236 óbitos permanecem em investigação.
Em entrevista, Luiz Artur Caldeira explica que os novos óbitos não ocorreram todos na última semana. Foram 21 em março e 17 ao longo do mês de abril.
Em 2024, o país registrou 1.937 óbitos por dengue e 4.127.571 casos prováveis. O recorde de casos prováveis anterior era o registrado em 2015, com 1.688.688.
O aquecimento global, o El Niño e a baixa adesão de medidas eficazes no combate ao mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus, são alguns dos motivos apontados para a explosão de casos.
A cobertura vacinal da Qdenga, única vacina atualmente aprovada para uso no SUS (Sistema Único de Sáude), que previne contra hospitalizações e óbitos, está baixa. Em toda a cidade de São Paulo, as doses recebidas no início do mês, a única remessa enviada até agora pela pasta da Saúde, só contempla 0,95% do público-alvo da cidade. O imunizante é aplicado em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
Na última semana, o Ministério da Saúde ampliou para mais 625 cidades a imunização com o envio de uma quarta remessa e o reabastecimento de cidades que fizeram remanejamento de doses próximas ao vencimento, no próximo dia 30. A capital de São Paulo não foi contemplada na nova distribuição.
|IDNews® | Folhapress | Beto Fortunato |Via NBR | Brasil