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Tolerância zero de Trump estimulará voto latino, afirmam especialistas


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Tolerância zero de Trump estimulará voto latino, afirmam especialistas
     Em novembro deste ano, especialistas veem grande chance de mais latinos se mobilizarem e comparecerem às urnas

6:05 |IDNews/Folhapress/Via Notícias ao Minuto | 2018OUT05 | 

aposta dos democratas no voto de latinos e outros grupos de imigrantes para conquistar a Presidência em 2016 falhou, mas a chegada de Donald Trump à Casa Branca e suas ações desde então prometem funcionar como estimulante eleitoral nesse grupo nas legislativas de novembro.

O voto nos EUA não é obrigatório. Historicamente, as “midterms”, as eleições de meio de mandato presidencial dos EUA, atraem menos eleitores que as presidenciais. Em 2016, cerca de 60% dos aptos a votar compareceram às urnas, ante 38,5% nas midterms de 2014. Quando se olha especificamente para a população latina, os percentuais caem a 48% e 27%, respectivamente.

Em novembro deste ano, no entanto, especialistas veem grande chance de mais latinos se mobilizarem e comparecerem às urnas.

O catalisador da participação seria a políticas migratória mais rígidas adotada pelo governo americano em abril, quando foram implementadas medidas como a separação de pais e filhos flagrados tentando entrar ilegalmente pela fronteira com México.

O resultado político disso poderá ser medido seis meses depois e traz um risco para os republicanos, que desejam manter a maioria na Câmara dos Deputados e no Senado.

“Especialmente neste ano, a posição evidente anti-imigrante tomada pelo governo Trump será um fator que incentivará a pessoas a votar”, avalia Catherine Tactaquin, diretora executiva da National Network for Immigrant and Refugee Rights (NNIRR, na sigla em inglês), organização de defesa dos direitos de imigrantes e refugiados.

“Acho que será uma preocupação. Não há como eles minimizarem o dano de Trump à população imigrante e latina.”

David Ayón, conselheiro do Center for the Study of Los Angeles e integrante do centro de estudo Latino Decisions, também afirma que a impopularidade do presidente nessa parcela da população se fará sentir em 6 de novembro.

“Não só Trump é historicamente impopular [no grupo], como estendeu essa antipatia latina contra ele significativamente ao partido republicano, que se torna um repelente de eleitores latinos”, diz.

O peso da questão migratória, porém, não é ponto pacificado. Para Kevin Appleby, do Centro para Estudos da Migração, ele não define o voto latino. “Não acho que a Câmara vire por causa de imigração”, diz. Ele acredita que as políticas dos candidatos para saúde e emprego pesam mais.

Historicamente, latinos e imigrantes pendem para o lado democrata –com algumas particularidades, como os cubano-americanos, mais identificados com os republicanos por sua ojeriza à ditadura dos Castro. Isso menos por uma identificação com as temáticas progressistas defendidas pelo partido, e mais por outras prioridades desse grupo.

“A maioria deles é pragmática e apoia a ideia de soluções públicas para problemas públicos. Mesmo que latinos sejam contra o direito ao aborto, eles não veem isso como uma prioridade de governo, eles acham que a prioridade é o governo trabalhar para as pessoas”, afirma Ayón.

Ele também vê educação, ambiente e transporte público entre os temas de peso para esses eleitores, assim como a preocupação em manter o papel do Estado.

O pouco apelo ao eleitorado latino é uma má notícia para um partido que tenta se renovar em meio às mudanças demográficas nos EUA. A base eleitoral republicana é formada por homens brancos e mais velhos, enquanto a fatia que mais cresce é composta por mulheres solteiras, negros e jovens, segundo o Centro de Participação do Eleitor.

Os latinos também avançam: de 2012 a 2016, o eleitorado americano ganhou 4,1 milhões de latinos. No longo prazo, isso pode significar uma ameaça aos republicanos.

Pesquisa da New America Economy indica que, até 2020, quase 4,2 milhões de latinos e asiáticos que moram nos Estados Unidos vão se naturalizar e se tornar elegíveis a votar. Se isso ocorrer, haveria impacto em estados como Flórida (472 mil a mais), Texas (360 mil), Virgínia (113 mil), Arizona (82 mil) e Geórgia (81 mil).

Se os padrões de voto de 2012 fossem mantidos nas próximas eleições, estados tradicionalmente republicanos seriam mais disputados ou penderiam aos democratas.

Segundo o levantamento, isso eliminaria praticamente toda a margem de vitória obtida pelos republicanos no Arizona e quase metade da margem no Texas e Carolina do Norte já em 2020.

Para os especialistas, os republicanos poderiam tentar capturar esses eleitores, mais conservadores: se opõem ao direito ao aborto e se alinham com temas defendidos pelo partido, como posse de armas.

A Flórida é um exemplo de como o partido poderia capitalizar o voto de uma parcela dos latinos: no estado, mais da metade (54%) dos cubanos apoiou Trump, contra 26% dos latinos não-cubanos.

Sem atrair esse eleitorado, os republicanos têm impulsionado medidas para inibir sua participação, afirma Catherine Tactaquin, do NNIRR.

“O que eles estão fazendo é aumentar a intimidação à comunidade imigrante. Tentam abrir investigação de imigrantes que se naturalizaram. Há centenas de investigações sobre voto de imigrantes”, diz.

Na Carolina do Norte, o Departamento de Justiça ordenou que milhões de registros de eleitores fossem entregues a autoridades imigratórias. A decisão faria parte de uma investigação de ilegalidades na votação presidencial de 2016.

Para Tactaquin, seria um esforço para evitar que essa população se torne cidadã e vote. “Estão tentando atacar esses imigrantes. Em vez de atrair, eles pressionam para mantê-los longe das eleições.” Com informações da Folhapress.

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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