Esportes

Turner apareceu como ameaça à Globo nos direitos de transmissão, mas falhou


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O ambicioso plano da empresa americana fracassou


A Turner, empresa do grupo WarnerMedia, passou quase dois anos tentando convencer clubes brasileiros de que havia alternativa ao modelo de negócios de direitos de transmissão do Grupo Globo.

Segundo dirigentes ouvidos pela reportagem, o discurso empregado pelos executivos da empresa era que os times tinham poder de barganha e deveriam exercê-lo. Não fazia sentido negociar um único contrato que englobasse todas as plataformas (aberta, fechada, internet e pay-per-view), como a Globo desejava. E que o projeto da WarnerMedia era uma alternativa vantajosa em TV fechada.

Na última terça-feira (28), o ambicioso plano da empresa americana fracassou. Ela anunciou que vai abrir mão de transmitir os jogos do Campeonato Brasileiro a partir de 2022 em um contrato que começou em 2019 e terminaria apenas em 2024.

Apenas nesta temporada, a empresa já pagou ou terá de pagar cerca de R$ 200 milhões para os sete clubes atualmente na Série A com os quais tem contrato: Athletico, Bahia, Ceará, Fortaleza, Juventude, Palmeiras e Santos.

O anúncio da saída não surpreendeu dirigentes do futebol nacional. Eles já haviam sido informados do desejo da Turner de abandonar o jogo. O grupo tinha direito de fazer isso, segundo cláusula do contrato, em dezembro deste ano.

A ideia era transmitir o Brasileiro apenas até o término da edição 2020, mas clubes e o grupo de mídia entraram em um acordo no ano passado, segundo o UOL, para que fosse estendido o período por mais uma temporada, assim, evitando processos de ambas as partes. Os clubes abriram mão de uma indenização para ter posse dos seus direitos já em 2022 e renegociá-los.

No meio do caminho, a emissora redefiniu suas prioridades, fechou o canal Esporte Interativo, seu principal braço esportivo, e começou a transmitir partidas em plataformas de streaming, como TNT Sports e HBO Max.

Um presidente de um time de São Paulo constatou, nesta semana, que a Turner não acreditou no próprio projeto.

Foi um giro de 180º que surpreendeu parte do mercado porque os contratos com as agremiações foram difíceis de conseguir e, se já eram valiosos, se tornarão mais ainda com a chamada Lei do Mandante.

Embora a nota oficial não cite o assunto, a avaliação da Turner é que vale a pena esperar para ver se uma liga de clubes, ventilada neste ano, pode ser criada. A emissora não descarta tentar novamente comprar os direitos, caso o novo torneio seja viabilizado.

Mas em um formato de transmissão diferente do atual, em que a empresa possa ter jogos em exclusividade e não divididos com a Globo em TV aberta e pay-per-view. Algo que vai contra o que a própria Turner vendeu para os clubes como ideia na hora de abrir as negociações que culminaram nos contratos de 2019.

Pela Lei do Mandante, sancionada em setembro, o clube que joga em casa tem o direito de negociar a transmissão da partida com quem quiser, independentemente da vontade do visitante. Pela regra anterior, os dois times participantes tinham de estar de acordo.

A Turner esperava que essa legislação entrasse em vigor já em 2021, com validade nos contratos já firmados, o que aumentaria o número de jogos que poderia transmitir. Mas foi colocada no projeto de lei uma emenda que resguarda os direitos dos acordos ainda em vigor. Uma proteção para a Globo, detentora dos direitos de transmissão da maior parte das equipes do Brasileiro -até 2024.

A partir de 2022 (ou mesmo no final deste ano), os sete clubes terão nas mãos o poder de negociar um novo contrato em TV fechada. A principal alternativa é a própria Globo e o SporTV, seu canal de esportes. Mas o aparecimento de outros interessados pode provocar a valorização desses direitos, segundo executivos de mercado ouvidos pela reportagem.

No processo de negociação, iniciado em 2016, a Turner exibiu planilhas para explicar como as equipes, se unidas, mesmo que em pequenos grupos, poderiam praticamente inviabilizar o sistema de pay-per-view, atual galinha dos ovos de ouro do principal conglomerado de comunicação do país.

Os mesmos números, análises e dados eram explicados em reuniões com cada presidente de clube para tentar fazê-los entender. Nem sempre dava certo.

Isso acontecia, em parte, porque muitos dirigentes viam a Globo como mais do que uma parceria comercial, quase como uma amiga. Eles recebiam telefonemas de Marcelo Campos Pinto, então executivo encarregado dos direitos de transmissão, para avisá-los de que o grupo de comunicação estava à disposição para o que precisassem. Especialmente para antecipação de receitas futuras.

Nessa condição, a emissora usou as armas que tinha. Uma delas foi o redutor de contrato. Quem assinasse com a Turner para TV fechada receberia menos em TV aberta e pay-per-view por, na teoria, restringir a capacidade da emissora de manejar os jogos do Campeonato Brasileiro em suas diferentes plataformas. Isso limitou o número de interessados na proposta da concorrente –em 2019, o braço da WarnerMedia fechou com 16 equipes das quatro divisões do Nacional, sendo 7 da Série A.

O anúncio da saída chega em um momento em que a Globo também não exerce o mesmo monopólio de antes. Os estaduais de Rio e São Paulo do próximo ano foram comprados pela Record. A emissora também não mostrou a Libertadores e a Copa América deste ano (compradas pelo SBT) e relutou em pagar os valores exigidos por uma empresa espanhola que negocia os jogos das Eliminatórias para a Copa do Mundo em nome de oito federações sul-americanas (a brasileira e a argentina são exceções).

Mesmo a transmissão da Copa do Mundo passa por processo de nova discussão de contrato, já que a Globo deixou de pagar as parcelas acertadas previamente durante a pandemia.

| IDNews® | Folhapress | Via NMBR |Brasil

Beto Fortunato

Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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