Ucrânia diz ter enfim lançado 1ª contraofensiva contra a Rússia
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No fim de julho, uma nova etapa do conflito se desenhou com ataques renovados de Moscou e a ação ucraniana com armas ocidentais, que prenunciava uma contraofensiva que agora diz estar em curso.
Sob grande ceticismo de observadores militares, o governo da Ucrânia afirmou ter iniciado nesta segunda (29) sua primeira contraofensiva para tentar retomar áreas no sul do país ocupadas desde março pela Rússia.
Os detalhes ainda são escassos. “Nós começamos ações ofensivas em várias direções, incluindo na região de Kherson”, afirmou a porta-voz do Comando Militar do Sul do país, Natalia Humeniuk, numa entrevista coletiva.
O site público Suspilne mostrou imagens do que seria o bombardeio na região de Mikolaiv, o ponto em que as forças russas pararam seu avanço rumo a Odessa, o principal porto do país que está sob bloqueio parcial, com exceção da saída de alguns navios com grãos.
Kiev passou as últimas cinco semanas ensaiando o ataque por terra, após uma série bem-sucedidas de bombardeios com artilharia de precisão americana de alvos logísticos russos, como depósitos de munição distantes da linha de frente. Pontes sobre o rio Dnieper, que separa a capital homônima do resto de Kherson, também foram atingidas.
Isso irritou o Kremlin, que acusou o envolvimento dos EUA de direto no conflito, o que Washington nega por temer uma Terceira Guerra Mundial. A situação da cidade Kherson ficou mais vulnerável, mas mesmo autoridades militares ucranianas afirmaram sob reserva não dispor de forças para tomá-la.
Isso levou a um impasse, pois o presidente Volodimir Zelenski e seus aliados crescentemente pressionaram por resultados de sua área militar. O temor deles é óbvio: a demora fez com que os russos reforçassem suas posições no sul, apesar dos ataques, e o inverno está chegando.
A temporada promete ser de crise acentuada, já que a disputa reduziu a quantidade de gás russo para países europeus, que impõem sanções a Moscou. Com isso, casas podem ficar sem aquecimento não só na Ucrânia, mas em toda a Europa, reduzindo o apoio de governos a Kiev.
Isso já foi admitido pelo governo alemão, cuja economia dependia muito do gás vindo da Rússia e de esquemas de fornecimento arquitetados ao longo de duas décadas entre Berlim e a gestão Vladmir Putin.
O problema para Zelenski é que o tempo está do lado de Putin, que apesar de ter a economia atingida pelas punições, tem sobrevivido politicamente a elas e tem maiores reservas.
Um sinal da estratégia de prolongamento do conflito foi o anúncio de que as Forças Armadas russas terão cerca de 10% a mais de soldados a partir de 2023.
Mesmo o grande exercício militar anual russo, que ocorre de forma escalonada a cada edição por 4 dos 5 comandos do país, foi reduzido. O Vostok (Leste) começa na quinta (1º) com cerca de 50 mil homens, ante 300 mil de sua edição anterior, de 2018. A edição de 2021, ocorrida no oeste com a Belarus, teve 200 mil soldados.
O Vostok assim chama mais a atenção pela constante presença de aliados, notadamente a China, agora no contexto de uma Guerra Fria 2.0 tornada quente na Europa por Putin.
Essas restrições refletem as dificuldades russas até aqui, mas também a posição de força de Putin. Na primeira etapa da guerra, o ataque por várias frentes há seis meses, o Kremlin fracassou em tomar Kiev de supetão, mas penetrou bastante o sul ucraniano.
Na segunda, iniciada em abril, focou suas forças no Donbass, o leste do país cuja autonomia de áreas russófonas foi uma das justificativas centrais para a invasão -que buscava estabelecer um controle de Putin sobre todo o país, com ou sem ocupação, num desafio ao que é percebido como ameaça da Otan, aliança militar ocidental que se expandiu a leste após o fim da União Soviética em 1991.
O russo ali teve mais sucesso, de forma bastante lenta e sangrenta. Conquistou a província de Lugansk e avançou no restante que ainda não controla da de Donetsk, mas num atrito tão intenso que o último ganho territorial importante ocorreu em junho. Mas consolidou um corredor terrestre entre o Donbass e a Crimeia, anexada sem luta em 2014, desenhando um novo mapa.
No fim de julho, uma nova etapa do conflito se desenhou com ataques renovados de Moscou e a ação ucraniana com armas ocidentais, que prenunciava uma contraofensiva que agora diz estar em curso. Houve também ataques pontuais em áreas da Crimeia, de efeito mais psicológico. Há dúvidas acerca da capacidade de Kiev de, por exemplo, tomar e reocupar Kherson, mas os dias dirão a realidade.
Para Putin, a curva de aprendizado com os erros táticos até aqui se mostrou ambígua. Seu poder político segue inabalável, ao contrário do que previam comentaristas ocidentais, e a opção por uma guerra de atrito ao estilo do segundo conflito mundial só choca quem não conhece a mentalidade militar russa.
Mas a sucessão de problemas e a resistência ucraniana, alimentada com armas da Otan, têm desmoralizado a modernização propagandeada de suas Forças Armadas. Concorre também o isolamento internacional e, agora, a crise na usina nuclear de Zaporíjia.
Ocupada pelos russos, a região é palco de combates, com ambos os lados acusando o outro de perigosos bombardeios que podem gerar um desastre nuclear. Uma comissão da Agência Internacional de Energia Atômica deverá enfim ir até lá nesta semana para avaliar os riscos. Um eventual cessar-fogo na região poderá servir de base para uma retomada de negociações entre Kiev e Moscou, apesar de isso ser remoto hoje.
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