Veja áreas para investir em Portugal e o que muda nos vistos gold em 2022
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Ainda que a pandemia de coronavírus tenha imposto desafios e reveses para as economias mundiais, um grupo de cinco países não retrocedeu e ainda obteve pontuações maiores no ranking que compara os locais mais confiáveis para investimento estrangeiro. Portugal foi um dos que fugiram à regra.
De acordo com levantamento anual da consultoria americana A.T. Kearney, o país europeu passou da 21ª para a 20ª posição do ranking –na liderança estão os EUA, invictos pelo nono ano consecutivo.
Em uma escala que varia de 1 a 3, Portugal obteve 1,71 de pontuação no conjunto de perguntas que investiga a confiança e o interesse de uma empresa ou de um investidor estrangeiro em fazer uma aplicação no país. Nos EUA, a média é 2,17, e no Brasil, 1,64 –o país é o 24º da lista.
Ao longo dos últimos anos, Portugal criou benefícios para atrair novos investidores, com desdobramentos que podem ser aproveitados por brasileiros –tanto os de maior quanto os de menor poder aquisitivo. Um dos principais exemplos de que o tema é uma prioridade na agenda econômica do país foi dado em 2012, quando implementou um visto de residência a estrangeiros que fizessem aportes robustos.
O chamado visto “gold” tem oito possibilidades, que vão de transferência de capitais para um fundo de investimentos à criação de postos de trabalho em solo português (veja na tabela abaixo). Os valores são salgados –o montante mínimo a ser investido é de 250 mil euros (R$ 1,6 milhão), no caso de apoio à produção artística, recuperação ou manutenção do patrimônio cultural.
Após finalizado o trâmite do investimento escolhido –envio do dinheiro, preparo dos documentos e solicitação do benefício–, em um ano o investidor já obtém o primeiro visto de residência permanente. Ele ainda precisa permanecer em Portugal por no mínimo sete dias para completar o processo.
Os brasileiros, segunda nacionalidade que mais recebe o visto, buscam principalmente a compra de imóveis residenciais e os fundos de investimento que, com a pandemia e a redução das viagens, tornaram-se ainda mais atrativos, conta Ana Elisa Bezerra, vice-presidente da LCR Capital, empresa que assessora quem deseja aplicar para essa modalidade de visto.
Bezerra diz que um dos principais atrativos do visto gold é a variedade de modalidades que o investidor tem para escolher, o que permite adaptar o investimento aos objetivos profissionais e familiares. É comum, por exemplo, que brasileiros comprem imóveis residenciais em Portugal para alugar, já que o turismo é um dos motores da economia lusitana.
Além do possível retorno financeiro, somam-se outros ganhos. “O primeiro é o fato de ter uma residência permanente na União Europeia. E, após cinco anos, é possível requisitar o passaporte português, o quinto mais poderoso do mundo, já que permite viajar para mais de 180 países sem visto”, explica.
Entre os que obtêm o visto e passam a morar em Portugal, Bezerra afirma que os principais comentários abordam a segurança urbana, a qualidade do ensino e o acesso a cuidados médicos –o sistema de saúde público português ficou na 28ª posição na última edição do índice de eficiência em saúde da Bloomberg, que acompanha a expectativa de vida e os investimentos médicos.
Ao todo, 10 mil vistos gold foram emitidos desde que o programa foi criado, em 2012, até setembro de 2021. Pouco mais de 10% das autorizações (1.034) foram para brasileiros. O investimento levou à entrada de 5,9 bilhões de euros (R$ 37,8 bilhões) no país.
Aos que querem se inscrever para o visto gold, é preciso ficar atento. Um conjunto de mudanças entra em vigor em 1º de janeiro de 2022, aumentando o valor de algumas aplicações e mudando a carteira de possibilidades de outras. Bezerra recomenda aos que desejam gozar dos valores atuais iniciar o processo até o final de outubro. O site do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras detalha as informações.
Além dos investimentos mais robustos, como os que dão acesso ao visto gold, há uma ampla cartela de investimentos menores, mais acessíveis e diversificados, disponíveis para quem quer entrar no mercado econômico português. O carioca Eduardo Pinto, descendente de portugueses, vive em Lisboa há três anos. Engenheiro de formação, ele observou que havia um nicho disponível no campo da educação financeira e criou a Mentorio, consultoria na área que atende clientes brasileiros de diversos países.
Ele lista seis setores com potencial de investimento, tanto para aqueles que querem empreender na área quanto para os que preferem investir no mercado de capitais. Além das áreas imobiliária e de turismo, mais conhecidas, entram na lista macrossetores como energia renovável, tecnologia e TI (tecnologia da informação), exportação e importação e agronegócio.
“Portugal geograficamente é um local estratégico no mundo, como um hub, que acaba sendo porta de entrada para a Europa”, diz. “Energias solar e eólica têm grande visibilidade no mercado português, e alguns fundos de investimentos já estão focados em ativos de energia renovável. Já na área de tecnologia, o país tem criado vários incentivos para empresas e tem uma mão de obra qualificada e relativamente barata se comparada a outros países da União Europeia.”
Segundo explica o coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Ricardo Teixeira, as taxas de retorno de um investimento feito em Portugal serão menores que as de aplicações feitas no Brasil –o que não exclui os benefícios. “A diferença a favor de Portugal é que a estabilidade do retorno que se terá é maior e mais constante. O euro é uma moeda estável e forte.”
No caso daqueles que passam a residir em Portugal, soma-se também o custo de vida, menor do que o das maiores cidades brasileiras. “Isso faz com que o retorno que a pessoa terá com o investimento dê uma qualidade de vida maior, quando comparada à que teria no Brasil”, afirma Teixeira.
Aqueles que querem viajar para o país para conhecer melhor as possibilidades de investimento e o dia a dia das cidades já podem usufruir do relaxamento das regras sanitárias. Em setembro, Portugal voltou a autorizar a entrada de turistas brasileiros -como ainda não foi acordada a validação dos certificados de vacina entre os dois países, os viajantes devem apresentar um teste negativo para o coronavírus.
Com 86,4% da população completamente vacinada, o país europeu já retomou a vida pós-Covid.
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