Viúva de Nelson Mandela cobra atuação radical do Brasil pela igualdade racial
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Machel, que é de origem moçambicana e ativista dos direitos humanos, lembrou que cerca de 57% da população brasileira é formada por negros, embora isso não se reflita nos espaços de poder políticos e econômicos -majoritariamente ocupados por brancos.
A ativista Graça Machel, viúva de Nelson Mandela, cobrou uma atuação mais ampla e radical das empresas em prol da igualdade racial no Brasil. Em visita a São Paulo para a semana da Consciência Negra, ela fez uma palestra durante o 2º Fórum Internacional Empresarial pela Equidade Racial, realizado na Universidade Zumbi dos Palmares, nesta sexta-feira (18).
Para uma plateia composta por CEOs de grandes companhias, lideranças do poder público e representantes da sociedade civil, Machel disse que o Brasil é um país que a deixa indignada porque falta uma consciência profunda de que a discriminação é inaceitável.
“Temos que ser mais radicais na desconstrução das estruturas raciais que existem no Brasil, e sermos muito mais conscientes de que é preciso reconstruir o nosso tecido social, pedra a pedra, numa base de aceitar que os 200 milhões de brasileiros têm todos a mesma dignidade”, disse.
Machel, que é de origem moçambicana e ativista dos direitos humanos, lembrou que cerca de 57% da população brasileira é formada por negros, embora isso não se reflita nos espaços de poder políticos e econômicos -majoritariamente ocupados por brancos.
No entanto, ela reconhece alguns avanços na agenda, como o próprio Fórum, que foi organizado por dois movimentos corporativos em prol da inclusão racial: a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, que reúne 60 grandes empresas -como Itaú, Coca-Cola, Unilever e Magalu- e o Mover (Movimento pela Equidade Racial), formado atualmente por 47 companhias.
“Este é o maior movimento de empresários [em prol da equidade racial] da América Latina. Portanto, já estamos ficando inquietos. Mas quero sugerir ficarmos mais do que inquietos, nós devemos dar espaço o suficiente para sermos muito mais radicais”, disse Machel.
Segundo ela, as iniciativas de capacitação de lideranças e processos seletivos para negros, entre outros esforços, são muito importantes, mas representam uma cota ínfima. “Na desconstrução que estou falando é preciso fazer mais. Muito mais”.
A ativista lembrou que as receitas de muitas empresas que compõem esses movimentos chegam a ser maiores que o PIB (Produto Interno Bruto) de vários países africanos. Por isso, o esforço pode e deve ser mais ousado, defende.
Uma das propostas de Machel é que o movimento para enfrentar a desigualdade racial se estruture por setores da economia. Ter metas comuns entre os participantes de uma mesma indústria permitiria, por exemplo, identificar e planejar melhor como remover as barreiras existentes.
A proposta é que cada segmento, nas diferentes regiões do país, tenha indicadores de progresso nesta agenda.
A ativista ainda destacou que a luta racial não é só uma questão de direitos humanos, mas uma estratégia de desenvolvimento econômico. “É esta nação que vai ser 57 vezes mais produtiva, mais próspera e, por isso mesmo, mais rica em termos de alternativas e visões de como fazer o Brasil melhor”, disse.
“Para mim, é uma questão de justiça social, mas para os empresários é uma questão de negócios. Dá um ‘business case’ investir em cada cidadão deste país”, acrescentou.
José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, disse durante o evento que a formação do maior grupo de empresas das Américas em prol da agenda racial manda uma mensagem importante para a sociedade.
No entanto, apesar dos avanços, ele criticou a baixa representatividade de negros na alta liderança das companhias. “Nem no auge do apartheid sul-africano os números eram tão ruins como são os nossos brasileiros”, pontuou.
“Não teremos honra se entregarmos para nossas futuras gerações um país cindido, segregado. Em que a cor da pele, várias vezes, significa ser assassinado dentro do ambiente corporativo”, acrescentou.
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