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Esquerda faz atos esvaziados contra Bolsonaro sob distanciamento de Lula

Os protestos foram anunciados por partidos e entidades após ato no mês passado que reuniu uma multidão na avenida Paulista, em São Paulo, a favor de Bolsonaro, investigado pela Polícia Federal no inquérito que apura uma tentativa de golpe.


Movimentos de esquerda fizeram  neste sábado (23) uma série de atos dispersos pelo país, convocados em resposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que acabaram esvaziados em meio ao distanciamento do governo Lula (PT) e ao racha na visão de partidos e militantes sobre a pertinência da mobilização.

Os protestos foram anunciados por partidos e entidades após ato no mês passado que reuniu uma multidão na avenida Paulista, em São Paulo, a favor de Bolsonaro, investigado pela Polícia Federal no inquérito que apura uma tentativa de golpe.

Os temas da manifestação da esquerda acabaram sendo pulverizados, incluindo a lembrança aos 60 anos do golpe militar e pedido de que não haja anistia para golpistas.

Em Salvador, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou neste sábado que o objetivo dos atos da esquerda não era se equiparar em números ao realizado por Bolsonaro na Paulista, mas sim reforçar o combate a ditaduras e tentativas de golpe.

“[O objetivo] é fazer atos pelo Brasil inteiro, independente de tamanho. Para reunir as pessoas e aqueles que lutaram contra a ditadura e deixar aceso na memória que não podemos voltar a esse tempo. E também para dizer que nós não concordamos com a tentativa do golpe do 8 de janeiro.”

Sobre a ausência de Lula das manifestações, a presidente do PT afirmou que “não é função do governo nem do presidente fazer mobilizações sociais”.

Havia manifestações programadas para 22 cidades no Brasil e no exterior. As da manhã foram esvaziadas, em capitais como Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Campo Grande e Recife, reunindo, em geral, de dezenas a centenas de pessoas.
As duas principais, previstas para a tarde, em Salvador e em São Paulo, também registram baixa adesão.

Sob chuva, o largo São Francisco, no centro, ficou mais cheio depois das 16h, uma hora depois do começo do ato, mas ainda era possível caminhar entre os militantes.

“Acho que São Pedro está do lado de lá”, brincou o deputado estadual Simão Pedro (PT), comparando a chuva com o dia de sol durante o protesto dos bolsonaristas na Paulista no dia 25.

Com discursos em memória das vítimas da ditadura, pedidos de prisão de Bolsonaro e contra anistia aos golpistas, havia também presença de bandeiras da Palestina e críticas às mortes pela Polícia Militar do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Estavam presentes integrantes do movimento estudantil, da Apeoep (sindicato dos professores), do sindicato dos metalúrgicos, do MST, MTST, e de partidos de esquerda como Unidade Popular.

Com breve e aplaudida presença no ato, José Dirceu (PT) disse não caber comparação com o público do ato de Bolsonaro na Paulista, uma vez que a esquerda havia optado por atos espalhados por todo o país em memória do golpe de 1964, o que descaracterizaria um confronto direto com o ex-presidente.

Contribuíam para deixar o espaço do largo mais ocupado duas grandes bandeiras seguradas por manifestantes, uma do Brasil e outra da Frente Povo sem Medo.

Integrante da Frente Povo Sem Medo, uma das organizadoras do ato, Juliana Donato disse que a chuva atrapalhou a manifestação, mas que o recado contra a anistia aos golpistas foi dado.

Ela avaliou como um erro a decisão do presidente Lula (PT) de não endossar a mobilização, assim como a de cancelar o ato que o governo federal faria para marcar os 60 anos do golpe militar.
“Não só pela data redonda, mas porque ainda vivemos uma ameaça à democracia”, disse. “Lula não falar sobre o golpe não apaga nem o golpe nem a disputa política.”

Na capital mineira, participantes que foram ao ato na praça Afonso Arinos utilizavam camisetas vermelhas com inscrições como “sem anistia”.

Além do mote “ditadura nunca mais”, a defesa da Palestina em meio à guerra com Israel também é um dos temas dos atos.
Os manifestantes que se dirigiram à praça Santos Andrade, em Curitiba, portavam faixas como “democracia sempre” e “sem anistia para golpista”

Em Fortaleza, também com a participação de algumas dezenas de manifestantes, bandeiras do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), de sindicatos e do PSOL foram agitadas durante a manhã.

Também houve atos em São Luís e na capital de Portugal, Lisboa, que repetiram o mote das manifestações realizadas em outras capitais.

O dia de mobilização pela democracia é organizado por partidos de esquerda, centrais sindicais e pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que reúnem entidades como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), CUT (Central Única dos Trabalhadores), CMP (Central de Movimentos Populares), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e UNE (União Nacional dos Estudantes).

Como mostrou a Folha, o governo Lula (PT), porém, decidiu não se misturar às manifestações. O presidente não deve comparecer a nenhum dos atos pelo país e deve ficar em Brasília.

Os organizadores decidiram excluir a prisão de Bolsonaro das bandeiras da manifestação, embora um dos propósitos dos atos seja exigir a punição do ex-presidente e de seus apoiadores que invadiram os três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O argumento é o de que o direito de defesa e o devido processo legal têm que ser resguardados, assim como se reivindicava para Lula na Operação Lava Jato.

Ministros do PT e de outros partidos de esquerda evitam falar que há uma posição fechada ou mesmo uma orientação para se distanciarem dos atos. Por outro lado, afirmam que não irão comparecer por motivos variados, como compromissos familiares e doenças.

Para evitar desgaste com as Forças Armadas, Lula proibiu que ministérios realizassem críticas ou cerimônias em memória dos 60 anos do golpe militar, marca que será alcançada em 31 de março.

Enquanto isso, líderes dos movimentos de esquerda ressaltaram, ao longo da semana, a importância de lembrar a data para evitar que se repita. As entidades se dividem entre minimizar a postura do governo Lula ou criticar o presidente pelo veto.

O rechaço à anistia exposto nas ruas neste sábado ocorre depois que Bolsonaro reuniu milhares na avenida Paulista, no último dia 25, e fez um discurso no qual maneirou a conhecida agressividade contra o STF (Supremo Tribunal Federal), disse buscar a pacificação do país e pediu anistia aos presos pelo ataque golpista de 8 de janeiro de 2023.

Para evitar a comparação de públicos entre o ato bolsonarista e os protestos deste sábado, os organizadores buscaram evitar o mesmo padrão -escolheram o Largo São Francisco, em São Paulo, em vez da avenida Paulista, pulverizaram os eventos pelo país e concentraram esforços em Salvador, onde Lula teve mais de 70% dos votos contra Bolsonaro em 2022.

O distanciamento do governo, neste sentido, serve a vários propósitos. Além de não protagonizar a crítica à ditadura militar, o Palácio do Planalto evita compartilhar a responsabilidade em caso de eventual baixa adesão e busca se contrapor ao estilo de Bolsonaro, que, enquanto presidente, se empenhou em convocar apoiadores em atos de rua que miravam outros Poderes.

Com um ano e três meses de governo, Lula vê sua aprovação empatar tecnicamente com a rejeição no Datafolha. Consideram o trabalho do petista ótimo ou bom 35%, ante 33% que o avaliam como ruim ou péssimo e 30% como regular.

Em relação à pesquisa anterior, feita no começo de dezembro, as oscilações mostram um cenário negativo para o presidente.

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Jornalista - Diretor de TV - Editor -Cinegrafista - MTB: 44493-SP

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